Ensaio sobre a autodestruição



"Você está aplaudindo. Eu tô morrendo, porra."

~ En tu mira, Baco Exu do Blues.


"Queria respirar fumaça. Tive vontade de destruir algo belo."

~ Clube da Luta, 1999


Eu me odeio. Eu quero morrer. Eu quero respirar fumaça, entenda. Excita-me a ideia de ter um gás venenoso, tóxico e industrial adentrando o órgão que me permite respirar, apodrecendo-o por dentro, deixando-o frágil e limitando sua vida útil. Quando estou caminhado com meus amigos eu quero abandoná-los, deitar no meio da rua, fechar os olhos e esperar o impacto. Quando eu acendo um fósforo me dá vontade de colocar fogo no meu braço. Quando eu como, me dá vontade de vomitar. Quando eu acordo, me arrependo. Quando eu vou tomar os meus remédios, dá vontade de jogá-los fora. Quando eu vejo uma janela, eu penso se é alto o suficiente pra que eu morra na queda. Quando eu sinto cheiro de álcool e inspiro forte pra ver se chega na garganta, porque é a mesma sensação de beber vodka. Quando eu me olho no espelho me dá vontade de sentar o chorar.

A morte é um orgasmo.

Minha família devia me odiar, mas me ama, e isso é o ponto. Eu sinto que prendo essas pessoas e o ser desprezível que eu sou. Não que eu seja um monstro. Minha sombra me levou e eu cheguei ao outro lado. Me olho no espelho e vejo uma adolescente sem limites que é um perigo pra si mesma. Eu me mataria como uma forma de expressar um conceito. Fazer de tudo isso um romance. Por que é pra isso que eu sirvo. Deixar as coisas um pouco mais interessantes. Seria engraçado se eu sangrasse até formar uma poça no chão do meu quarto. Seria poético. Seria harmônico. Seria um desfecho. Seria divertido se eu tivesse uma overdose na aula de filosofia.

O orgasmo é uma morte.

Vícios são interessantes. É por isso que eu tenho vício em café, masturbação, cigarro, álcool, automutilação, arte e poesia, dor e prazer. Na maioria das vezes essas coisas se misturam e a linha entre elas é tênue. E sou múltipla, complexa, interessante e monstruosa. Monstruosa porque eu trago as pessoas que me amam pra junto desse furacão de morte e orgasmos.


sub-versiva, 5 de março de 2021

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