Casulo
"É que por enquanto, a metamorfose de mim pra mim mesma não faz nenhum sentido" - Clarice Lispector Não me lembro de ter crescido. Não lembro de dar o primeiro trago. Não lembro da primeira vez que fiquei bêbada. Não lembro quando eu parei de sorrir pra fotos e não lembro de quando raspei o cabelo. Não lembro de quando saí de casa pra comprar pão sozinha pela primeira vez. Talvez seja por isso que eu não me reconheço em nenhuma foto de quando eu era criança. Me pergunto se as borboletas lá no céu sabem que já foram vermes rastejantes, colados no chão. Me pergunto se o casulo foi como uma espécie de morte, ou se elas se lembram; e se lembrarem: será que dói? Não gosto de pensar na criança que eu fui. Me faz desejar coisas impossíveis e querer reunir cinzas ao vento e construir alguma coisa com elas. Me dá raiva. Quando eu estava no casulo, achei que fosse morrer. Acho que é natural. O mundo acabava todos os dias, mas o sol sempre insistia em nascer no dia seguinte.