Corro


.

E eu corro.

Eu corro no metrô e uma multidão vai pro lado contrário

Eles parecem não entender, mas tudo bem. Eu já não me importo.

Eu vou morrer. Eu estou morrendo. Eu morro.

Tudo passa, e eu escorro.

A sensação é que se eu correr rápido demais

meu esqueleto ficara pra trás

Obsoleto no espaço tempo

Eu, apenas consciência, continuarei correndo.

Eu corro

E escorro

E morro.

Transcendo.

E eu, consciência, ainda choro,

As lagrimas saem do nada

E rolam pelo nada,

Molhando o nada, mas elas existem, elas estão ali.

Eu não tenho mais motivos. Eu não tenho mais moralidade, filosofia, valores, credo,

Tudo isso pertencia aquele corpo concreto...

E eu ainda sim choro.

Tudo é abstrato, o que é deus? O que é o Mundo?

Eu passo.

Através das pessoas no metrô eu passo. 

Eu subo as escadas e na noite me disperso.

Agora eu sou o mundo e todas as coisas.

Sem significado.

Onde está a minha mente?

No meu quarto.

Abro os olhos e ainda sou eu, corpórea, um maço.

Não menos ambígua, complexa.

Boto o fone de novo.

Próxima musica.

A rua, os carros.

Corro.

Corro.

Escorro.

E me desfaço.


sub-versiva, 6 de maio de 2021



Comentários

  1. Parece que dialoga com os limites do corpo e da consciência, transcendência, próximo ao nada.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas