Ab(sinto)






Minha tristeza é como absinto: verde doentio, teor alcóolico de 54%, gosto terrível que, as vezes é apreciado. As vezes, é até, requisitado. Pasmem, eu nunca vi ninguém comprar uma garrafa de absinto. Mas já vi varias pessoas que tem as tem em casa. Mas como explicar isso para você, que sente dor como bebe cerveja, amarela, suave, barata, 4% de álcool? 

"Vai se foder você e sua cerveja."
Disse eu, bêbada de absinto.

Disse eu, vendo tudo dobrado, minhas perspectiva domada pelo que sinto. 
Disse eu, em uma piscina verde radioativa de absinto. 

Como dizer a você que eu me sinto assolada por uma chuva torrencial, com raios brilhantes e trovões com um som grave que treme o âmago da terra e dita as batidas descompassadas do meu coração, quando tudo que você conhece é uma garoa fina e melancólica, vista através do vidro embaçado da janela. 

"Você não entende nada."
Disse eu, encharcada.

Como dizer a você que pra mim, a dor é uma vela acesa embaixo de mim, e por mais que a chama acesa não me toque jamais, o calor sobe e ferve e minha pele até ela se descolar do osso e entrar em estado liquido, ardendo e grudando de forma medonha a tudo que toca? 

"Logo você, que reclama do calor do verão."
Disse eu, em combustão. 

Como dizer a você que eu vivo respirando através de uma mordaça, que me sufoca e me cala, mas você não entende nada que eu gesticulo porque continua olhando bem na minha cara. O pano tá úmido e a minha boca, ressecada. Por mais que eu expanda a caixa torácica, nunca me sinto completamente preenchida de ar.

"Logo você, que reclama de usar uma máscara".
Gesticulei enquanto asfixiava.

Eu tento me comunicar por simbologias,
A coisa que me persegue como uma sombra.
Logo pra você, que vai ouvir e pensar:
Que belíssima e genial... metáfora.

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